É normal algum dia ou outro a criança se queixar de algo, afinal, a reclamação também é uma forma de comunicação e esta é a maneira que ela encontra para dizer que não está de acordo com alguma coisa.
O problema é que, quando não trabalhamos a educação socioemocional dos nossos filhos, eles não aprendem a identificar e lidar com os seus sentimentos e a reclamação pode se tornar um hábito, ocasionando sérios problemas quando se tornarem um adulto, como por exemplo o vício em reclamar. Ninguém gosta de conviver com um “reclamão”, não é mesmo?
Aqui no CPR, nós acreditamos que por meio da educação das emoções é possível trabalharmos a mente dos pequenos desde cedo, para tornar a reclamação uma forma de reação saudável.
Para entendermos melhor sobre esse comportamento, batemos um papo com o Leonardo Ferreira Andrade, ele é formado em pedagogia, mestrando em políticas educacionais e consultor educacional pela Escola da inteligência – metodologia de ensino idealizada pelo Dr. Augusto Cury e praticada diariamente com nossos alunos.
Reclamar faz parte do desenvolvimento
Todos nós, em algum momento da vida já reclamamos de algo. Reclamar como forma de protestar, exigir e reivindicar mudanças é positivo e também uma forma de comunicação.
A reclamação está relacionada ao desenvolvimento da criança e ao nosso desenvolvimento. Sobretudo, porque existem dois tipos de reclamações, a instrumental (que está acompanhada de reflexão, autodiálogo e pensamento crítico que promove mudanças e nos ajuda a solucionar os nossos problemas) e a expressiva (em que expressamos nossas insatisfações como função catártica (descarga emocional), simplesmente para nos sentirmos melhores, sem que o ato de reclamar esteja relacionado a encontrar uma “solução”).
A partir das nossas vivências vamos aprimorando nossa capacidade de reclamar, seja de forma saudável, ou não saudável! Portanto, a reclamação é um fenômeno “natural” na comunicação humana que todos nós certamente iremos experimentá-la – explica Leonardo.
O que fazer se o filho reclama demais e faz birra com tudo?
Muitas crianças encontram na birra uma forma para demostrar sua insatisfação, até porque na maioria das vezes não dominam plenamente a linguagem e se comunicam por meio da expressão corporal e facial.
Leonardo alerta que precisamos saber diferenciar a birra que acontece pela necessidade de afeto e atenção, da birra que se faz para conseguir o que quer. “Diante da birra, é preciso se conectar emocionalmente com os filhos, expressando de forma saudável nossas emoções e sentimentos frente ao comportamento apresentado, assim como, dialogar com eles (dialogo implica, escuta autentica, perguntas inteligentes e presença efetiva) sinalizando os comportamentos que nos aborrecem. Essas são as melhores alternativas para educar filhos emocionalmente saudáveis – completa Leonardo.
Não isole a criança por seu comportamento
Nós sabemos o quanto é estressante quando o filho decide fazer birra diante das pessoas – no supermercado, na festinha, no restaurante, e com isso muitas vezes deixamos de lado nossa vida social para evitar esse desgaste. Mas saiba, que esta não é a melhor alternativa, já que, mais cedo ou mais tarde eles voarão para o mundo e acredite, será ainda mais difícil caso ele se torne um adulto reclamão.
Quando agimos assim, perdemos a oportunidade de ensinar muitas habilidades e competências aos nossos filhos, além de impossibilitar a construção de outros vínculos e a socialização! Deixar de sair de casa, não é a melhor opção, pois, dentro de casa eles ainda apresentarão tal comportamento e uma hora eles sairão para se relacionar com o mundo! Esconder a birra que o seu filho faz, não o preparará para as insatisfações, problemas e desafios sociais, que certamente ele enfrentará! As famílias precisam enfrentar esses desafios com maturidade emocional, para que os filhos possam ter a oportunidade de aprender com os seus erros e falhas.
Reclamar pode causar impactos para toda a vida
Reclamar de vez em quando não é algo que fuja muito da normalidade. Mas quando essa reação vira um hábito, é melhor prestar atenção porque as consequências podem ir além de isolamento social e dificuldades de relacionamento.
Quando a reclamação se torna constante o problema passa a estar na maneira como a pessoa interpreta a realidade. Uma pessoa que reclama demais pode ter baixa autoestima e sentimento de rejeição. Além disso, as relações acabam ficando bastante comprometidas, afinal, é difícil se relacionar com alguém que reclama incansavelmente. A reclamação não contribui para a formação de um “eu” emocionalmente saudável – diz Leonardo.
Como trabalhar a mente para reclamar menos?
Para que possamos educar emocionalmente nossas crianças, é preciso conhecermos melhor sobre esse comportamento e a maneiras de trabalhar a mente para que se torne uma reação saudável.
Leonardo explica que, primeiramente devemos reconhecer que tipo de reclamação estamos expressando, e que outros sentimentos estão relacionados a ela. Quando somos capazes de reconhecer e nomear o que estamos sentindo, temos condição de expressar melhor esse sentimento, de lhe dar vasão de forma saudável. Vamos, aos poucos, aprendendo a fazer a gestão das nossas emoções e sentimentos.
Também podemos desenvolver os chamados “códigos da inteligência”, que são habilidades psíquicas, emocionais e comportamentais que nos permitirão lidar com as armadilhas da mente, preservando-nos ou ajudando-nos a sair delas.
Código da gratidão
Nos permite ver o lado positivo das experiências difíceis que vivenciamos, nos ajuda a valorizar o que é simples e pequeno e a reclamar menos. Ao exercer a gratidão também podemos estimular “vias neuronais”, que nos ajudarão a desenvolver relações mais saudáveis e honestas conosco e com os outros.
Código da empatia
Favorece nossa proximidade emocional em relação a experiência vivenciada pelo outro, e a considerarmos com maior sensibilidade e acolhimento suas crenças, posturas, atitudes e comportamentos. Quando estamos emocionalmente saudáveis, esse código nos permite convidar o outro a se aproximar da nossa realidade e de ver a vida de outra forma, considerando novas perspectivas e estratégias para lidar com as reclamações e com os desafios da convivência.
Código da autocrítica
Tende a impulsionar em nós uma reflexão sobre nossas qualidades e dificuldades, possibilitando o autoconhecimento. Dessa forma, nos permite identificar falhas e lacunas, corrigir rotas, mapear erros e nos orientarmos para mudanças de posturas e comportamentos, favorecendo a reclamação instrumental.
Código da resiliência
Favorece o nosso aprendizado frente aos desafios e problemas que enfrentamos no cotidiano. Nos ajuda a enfrentar essas situações, conhecermos e compreendermos os aprendizados adquiridos por tais experiências. Assim não nos paralisamos diante das nossas angústias, medos e reclamações e nos fortalecemos diante dos nossos problemas.
Ajude seu filho a administrar as emoções
Educar um filho é uma das tarefas mais difíceis e também mais prazerosas da vida. Não existe um manual ou uma fórmula pronta, cada família é singular e possui uma realidade única. Para Leonardo, podemos com certeza, educar filhos emocionalmente saudáveis e mais gentis, o primeiro passo é promover os códigos da inteligência mencionados acima, para que se tornem mais empáticos, generosos e altruístas.
Mas como desenvolvê-los?
Nossos filhos estão aprendendo conosco em cada gesto, discurso e postura, portanto, é importante que possamos propiciar bons exemplos, a começar por um discurso alinhado com uma prática, uma vivência coesa.
Para alcançarmos esse objetivo, é importante desenvolvermos conexão emocional com nossos filhos, dividir a nossa história com eles, vencer a necessidade neurótica de estarmos sempre certos! Devemos nos permitir errarmos, aprendermos com os erros e educarmos os nossos filhos para que sejam protagonistas da própria história – explica Leonardo.